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Empresa gera conhecimento?


Vamos juntar algumas peças e conversar?

  1. Fala-se muito de estarmos vivendo a "sociedade do conhecimento", ou a "era da informação", ou nomes semelhantes.

  2. No Brasil há uma notória defasagem na participação da iniciativa privada em pesquisa, desenvolvimento & inovação. Basicamente, quem faz pesquisa, no país, é a universidade - basicamente a pública.

  3. Numerosas empresas de consultoria vendem serviços baseados em análises, estudos, indicadores etc., e para isso reúnem equipes multidisciplinares especializadas.

Num quadro desses, é de se imaginar que há um grande volume de dados/informações gerados em estudos desse tipo, e uma parcela desses, inclusive, de primeira mão (fruto das tais fontes primárias): trabalhos de campo, entrevistas, levantamentos fotográficos e outros. Essas informações não estão em lugar nenhum a não ser nas próprias empresas e, eventualmente, com seus clientes. Além disso, mesmo com dados de acesso público, o que esse tipo de serviço oferece, muitas vezes, são contribuições metodológicas, ou mesmo análises, diagnósticos e proposições bastante inovadoras - que muitas vezes não chegam ao conhecimento público (mesmo entendendo esse "público" como uma comunidade de especialistas do assunto, seja em âmbito técnico-profissional ou científico-acadêmico).

Se é verdade que uma parcela importante desses dados e conhecimentos são mesmo de acesso restrito (seja por propriedade intelectual, sigilo de negócio ou outra razão), ainda assim é possível supor que outra parte importante desses trabalhos poderia ser compartilhada e circular sem representar riscos aos negócios, ou às comunidades envolvidas, ou ainda aos profissionais envolvidos.

Atualmente, cada vez mais conquistam espaço as soluções "open source" ou os vários "wikis", que têm como fundamento basilar a ideia de que o compartilhamento garante um processo em rede de produção, difusão e aprimoramento de conhecimento. Esse era o princípio da própria internet desde o princípio, e de ao menos algumas das redes sociais mais difundidas. Mesmo as finanças digitais (criptomoedas, NFT) se baseiam na tecnologia blockchain, que também se organiza por meio de redes relativamente descentralizadas e de dados compartilhados. Num cenário mais otimista, é como se essa nova economia estivesse se estruturando de fato como a "aldeia global" proposta, décadas atrás, por Marshall McLuhan.

Essa nova organização afeta também a produção do conhecimento, sendo cada vez mais comum que, em processos coletivos e colaborativos, torne-se cada vez mais difícil identificar claramente a autoria e, portanto, atribuir direitos individuais de propriedade intelectual. Talvez a figura do "autor individual", mesmo que nunca deixe de existir, passe a conviver com algo como o "autor coletivo". Muitas questões novas e desafios parecem emergir, e demandam reflexão de todos nós, já que as respostas talvez não sejam simples e nem sejam encontradas em curto prazo.

O que talvez já se possa pensar é que empresas que lidam com informação e conhecimento como a base de seu trabalho possam identificar em seus próprios trabalhos e produtos aquilo que se possa compartilhar, trocar e desenvolver de forma colaborativa com um público mais amplo. Isto não deixa de ser uma forma de se produzir pesquisa, ciência e inovação, a partir de uma perspectiva do setor privado. O interessante é que, para isso, a academia tem desenvolvido procedimentos, formas e meios de difusão que possibilitam ao público o acesso (gratuito, inclusive) ao conhecimento produzido. E se o setor privado dispusesse desses mesmos meios e também contribuísse a partir do trabalho já realizado?


Artigos, notas técnicas, working papers e outros são apenas algumas formas de difundir e compartilhar conhecimento com a comunidade e o grande público - ao mesmo tempo que constrói sua própria reputação, credibilidade e autoridade. E, em contrapartida, a difusão de tais mecanismos pode representar uma gama alternativa de fontes para o aprimoramento dos serviços que essas mesmas empresas têm a oferecer. O diferencial passa a ser a capacidade de, realmente, inovar e solucionar problemas a partir desse conhecimento, o qual passa a ser meio, recurso, e não o produto em si mesmo.

Será que as empresas brasileiras têm noção do conhecimento que produzem ou podem produzir? Do que podem contribuir para o desenvolvimento da nossa sociedade? E, mais importante do que tudo isso: será que estão dispostas a encarar esse desafio?

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